15.1.06

Final Feliz

Conversando com minha amiga ao telefone numa dessas madrugadas de muita insônia, percebi que a infelicidade não está no que não conseguimos ao final da jornada, mas no que esperávamos conseguir. É a tal estória do final feliz. Desde sempre a princesa é salva pelo príncipe "encantado" e, daí em diante, os dois vivem felizes para sempre. Bem, como vamos saber se eles foram realmente felizes para sempre se a estória termina aí? Mas não é sobre isso que quero escrever agora. Quero comentar sobre a maravilhosa idéia de substituir o príncipe por um ogro, apresentada no desenho animado "Shrek 2".
Durante a conversa com minha amiga fiz a seguinte pergunta: 

O que você prefere: um príncipe "encantado" egocêntrico, que lhe leve para um castelo de tristezas, ou um ogro atencioso, que lhe dê mais do que qualquer um lhe poderia dar no seu pântano fedido?

Às vezes, nossas expectativas estragam a surpresa no final do arco-íris, e no amor isso não é diferente. Quantas pessoas maravilhosas você já deixou passar pela sua vida simplesmente porque não quis pagar pra ver que bastava um beijo para o sapo se transformar em príncipe, o verdadeiro encantado, o qual por inúmeras vezes você esperou na janela com a trança jogada pro lado de fora para que o mesmo escalasse a masmorra que a enclausurava e a salvasse?
Pior do que julgar a realeza das pessoas pela sua aparência é exigir que elas a provem mostrando a coroa ou através de uma declaração em papel timbrado e selado com o brazão da família real. Amar alguém menos só porque ela não diz constantemente que ama, ipsis litteris, é cruel! Lembre-se que muitas outras já disseram, e disseram muito mais do que era preciso ouvir, e ainda assim não estão mais aqui, não é mesmo?
Outra coisa: De quem foi a idéia de que sempre quem deve surgir do beijo no sapo é um príncipe? Não poderia um desses anfíbios ser uma rã, gia, perereca, ou coisa parecida? Assim como no desenho do ogro com a princesa (e o burro), será que as princesas de plantão estariam preparadas para se transformarem em algo medonho para poder seguir o seu verdadeiro amor, indo inclusive morar num local inóspito, e contra a vontade dos seus pais? Será?
Enfim, creio devemos estar preparados para encontrar o amor onde menos esperamos. Assim como ninguém é perfeito, diria que nada é, nem o amor. Idealizar a pessoa e o que gostaríamos que ela fizesse ou dissesse para nós pode ser mais um obstáculo na batalha contra esse dragão de nove cabeças chamado solidão. Além disso, devemos nos dispor a mudar um pouco pela pessoa que nos faz felizes, como nenhuma outra fez antes, se estiver valendo a pena, é claro! É melhor curtir a estória e esperar o final, não concorda?

3.1.06

Estações do Amor

Em que estação do ano estamos agora: verão, outono, inverno ou primavera? Há locais em que elas estão bem definidas, enquanto há outros em que elas se confundem. Assim também são os relacionamentos, uns bem no seu devido lugar, outros nem tanto. Não estou a dizer que um seja melhor do que o outro ou o ideal, afinal cada um sabe o que é melhor para si. Ao ouvir Kid Abelha no ônibus hoje, escutei algo sobre "amores de estação", então responda:

"Qual a estação do seu amor?"

Você pode achar que tem um amor de verão, já que cada vez que se encontram um calor inquietante lhe domina e a vontade de se livrar das vestes é prioridade. Mas há quem diga que amor de verão não sobe a serra, né? Ainda bem que na nossa região as serras são bem raras, sendo assim não precisamos esperar ele subir uma para saber se vai dar pé ou não.
Mas você pode dizer que tem um amor de outono, onde sentados sob a árvore careca, ficam a olhar a paisagem acobreada pelo raio do sol no tapete de folhas caídas no chão, num clima de quase inverno, nem calor, nem frio... Ou será que o seu relacionamento, nesse caso, recebeu esse nome porque durou apenas o tempo da folha deixar o galho e tocar o chão? Às vezes, o pior é quando pensamos que a folha está a cair, quando, na verdade, ela já virou adubo.
Amor de inverno pode ser aquele agarradinho, debaixo das cobertas, com chocolate quente, DVD. É amor com clima de jantar à luz de velas, próximo à lareira, na casa com clima natalino, brilho, friozinho, luzes, presentes, surpresas. No entanto, ele pode ser aquele tipo de amor que esfriou com o tempo e que derrete juntamente com o floco de neve inspiradora da arte do cartão que está a enfeitar a árvore de Natal. A bola de neve que causou uma avalanche no início está agora no meio do deserto escaldante do fim.
Há de ser também um amor de primavera. Uma beleza, um mar de rosas, literalmente. O clima de renovação da espécie leva-nos a pensar na nossa perpetuação, o que pode justificar a procura pelo par ideal. Tudo começa a esquentar porque o verão, novamente, está a chegar. Que dure muito mais que uma brincadeira de bem-me-quer, mal-me-quer com as pétalas da última flor do jardim. Que dure mais do que dura a beleza da Dama da Noite, a qual poucos já tiveram a honra de apreciar.
Atualmente, tenho percebido que os relacionamentos sazonais têm sido os preferidos entre as pessoas, portanto me pergunto, "Relacionamentos podem dar certo quando ambos se conhecem na mesma estação pessoal ou quando um está bem equipado para se adaptar à estação na qual o outro se encontra no primeiro momento?" Se for assim, a dica é: Ande sempre com protetor solar para o verão, uma capa de chuva para o outono, um cachecol para o inverno, e uma câmera digital para a primavera. Caso contrário, você poderá perder a chance de pegar o trem do amor seja em qual estação for. Qual das opções você prefere: um amor como uma chuva torrencial e ligeira, ou uma garoa minguada e interminável? Seja qual escolher, importante é saber aproveitar cada momento porque sempre uma estação dá lugar a outra. Nada é para sempre!