27.12.12

Álbum de Figurinhas

Não lembro qual foi a última figurinha que troquei na vida! E você?
Mania de criança. Quando olho para trás, vejo como essa mania marcou a minha vida. Numa época em que a Internet ainda não havia nascido, expressávamos nosso "fanatismo", dentre outras formas, através de pequenas imagens dos nossos ídolos, que preenchiam páginas de um álbum, que muitos dizem não ter completado nenhum. A duras penas consegui marcar todos os quadrados daquela última página numerada de um álbum.
Álbuns socializadores. Numa época em que Orkut, Twitter, Facebook e afins também não existiam, esses álbuns faziam as honras. A ligação entre aqueles que tentavam preencher as intermináveis páginas era instantâneas. Assim, muitas amizades começaram e acabaram. Lembro de um caso: Havia uma das últimas figurinhas que eu queria para completar um álbum e uma colega da escola acumulava três dessa. Para conseguir com que ela liberasse uma para mim, tive que dar várias em troca. Troca efetuada, quadradinho marcado com um X e amizade finalizada. Imaturidade justifica...
Ideia adaptada. Hoje, ainda vejo álbuns de figurinhas aos moldes dos nossos saudosos circulando nas mãos de estudantes, mas eu me pergunto: "Será que o encanto de encontrar e admirar uma figurinha nova ainda é o mesmo ou a ganância maior está em preencher o álbum?" Para as crianças, não sei. Mas e para os adultos? Estes ressuscitaram a ideia dos álbuns e estão numa corrida desvairada para preencher o maior número de páginas possível, sem se atentar a que coleção pertencem as figurinhas que estão pregando. As figurinhas a que me refiro não vêm em pacotinhos de papel. As figuras que colecionamos atualmente são encontradas nas redes sociais, nos bate-papos, nos bares, nas ruas, em todo lugar.

"Somos todos figurinhas de álbuns alheios."

Por quantos álbuns a sua imagem já passou? Quantas páginas o seu já tem? Por acaso, ele parece uma folhinha daquelas que recebemos na igreja aos domingos ou está mais para uma enciclopédia tipo Barsa? Independente do tamanho da sua coleção, a questão é: Você conhece a fundo a história por trás de cada uma dessas figuras? Hábitos costumeiros, como folhear várias vezes ao dia o livreto para imaginar como seriam as figurinhas que faltavam, foram perdidos. As pessoas estão tão enlouquecidas em preencher suas páginas com figuras belas e (muitas vezes) sem conteúdo, que nem vale a pena folheá-las. Se isso ocorrer, de certo, algumas figuras causarão surpresa de tão insignificante que foi a situação na qual ela foi parar ali.
Trocando figurinhas. O mais interativo dos movimentos foi mantido: a troca. O que aconteceu comigo, por exemplo, por causa da figurinha que quase ia completar o meu álbum, hoje não causaria tanto problema, pois como o objetivo é preencher o maio número de páginas possível, algumas figuras passam de mão em mão despudoradamente. Assim, resgatamos uma velha conhecida: a figurinha marcada. Mega popular nos dias de hoje. Outra figurinha famosa na época era a repetida (coitada!), que desde então já sofria rejeição. Hoje, diríamos que sofriam "bullying". Os tempos e os termos mudam, mas o que nunca mudou é a certeza de que "figurinha repetida não preenche álbum".
O que importa? Na verdade, nada disso tem importado mais. Nem qual o estado do seu álbum, nem  quantos álbuns alheios você estampa. Nem se você é uma figurinha repetida, nem se é marcada. Sempre seremos decalque novo para algum álbum. Sempre encontraremos alguém em quem queremos colar rapidamente. Sim, porque a cola 'desses figuras' têm ficado cada vez mais vagabunda e ninguém usa Super Bonder nesses casos. Nem se deve usar, na minha opinião...
Bem pensando melhor, lembro da última figurinha que troquei, sim.