1.8.07

Amizade Descolorida

Assistindo a uma discusssão sobre amizade, surgiu a velha dúvida que martela cabeças por gerações:

"Amizade colorida estraga a verdadeira amizade?"

Não, não perca seu precioso tempo tentando dar mais pano pra essa manga. Pare, respire profundamente, olhe ao redor e veja quantas cores estão aí. Agora, reflita e veja se concorda com a expressão acima. Se a amizade colorida é aquela que pode levar uma amizade para um próximo nível, ou arruiná-la de vez, a verdadeira amizade é desprovida de cor? Não era pra ser o contrário? Não consigo lembrar agora uma outra situação na qual colorir algo pode ser maléfico. Mas o que mais me intriga é a idéia de uma amizade em preto e branco, sem graça, descolorida, por assim dizer. Mesmo na época dos filmes monocromáticos do Chaplin isso não devia ser uma coisa legal, senão não teriam criado o cinema em cores.
Logicamente que há amizades e amizades, mas daí a imprimir as fotos das minhas amizades em tons de cinza na minha memória é meio estranho, você não acha? Como seriam essas lembranças? Como poderia lembrar do efeito do sol na pele morena da amiga ou do amigo naquele pôr-do-sol inesquecível daquelas férias únicas do ano que antecedeu a partida dele ou dela para mais perto do Criador? Graças a Deus temos íris, os nossos cartuchos coloridos.
De repente, as amizades, assim como as cores, podem ser classificadas em quentes ou frias, primárias, secundárias ou terciárias, ou até em complementares... Nisso tudo, sabe onde fica o cinza? O cinza é uma cor neutra. O que seria uma amizade neutra? Eu digo que seria aquela que não quero pra mim. Gosto de pessoas que fazem a diferença, que mostram para que elas vieram ao mundo, que contribuem para o desenvolvimento recíproco. Não é à toa que já mandei uma pessoa que considerava amiga pra onde ela nunca esperava ir sem pensar duas vezes nem sentir uma gota de arrependimento até hoje. Quem manda querer derramar tinta preta na amizade? É como dizem: "Não sabe brincar, não desce pro play!"
Sendo assim, quero mais, muito mais amizades coloridas, não importa a matiz. De preferência daquelas cantadas por Toquinho, em "Aquarela", porque a tinta da verdadeira amizade é a única que nunca seca. Mancha às vezes, é verdade, mas não compromete a obra. Até porque são essas manchas que as tornam únicas na nossa vasta galeria da vida.