Uma minissérie baseia seu enredo na ideia de que o universo
é regido por padrões, sobretudo numéricos, responsáveis pelas conexões entre os
seres humanos. Seríamos, portanto, conectados uns aos outros por meio de sequências
numéricas implícitas em todas as situações que, dependendo de suas combinações,
causam encontros ou desencontros. O que chama atenção no programa é que não
damos a devida importância aos sinais que nos são enviados a todo o momento,
isto é, as entrelinhas, nas quais deveríamos ser alfabetizados de forma a
evitar interpretações errôneas das atitudes daqueles que nos rodeiam, a quem
estamos enredados, segundo a tal teoria.
De bem mais fácil percepção são alguns tipos de conexão que
mantemos no nosso dia-a-dia, por exemplo, em família, com amigos, no trabalho,
na vizinhança, na escola, enfim, nessas e em várias outras situações que
constroem a nossa teia invisível da vida. Creio que essa invisibilidade faça com que nos encontremos, por vezes, enrolados até o pescoço.
Família. O famigerado nó cego, impossível de ser desfeito e,
portanto, passível de abusos, sendo o mais comum o da intromissão. Como alguém pode acreditar que interferir na vida alheia é uma
prova de amor? Desde quando eventos em família são tão obrigatórias quanto o comparecimento à zona eleitoral em dia de eleição e passível de
punição exemplar? Por essas e por outras que eu mantenho esse meu nó o mais
frouxo possível, uma vez que não consigo arrebentá-lo de uma vez por todas.
Amizade. Nó tão forte quanto o familiar. Às vezes, consegue
ser mais estável do que aquele, porém menos resistente. Muitos são os
elementos enfraquecedores desse barbante, tais como: dinheiro e distância. Por
alguns amigos, tenho resistido a alguns desses obstáculos e me pendurado nesses
fios como o Tarzan, porque eles fazem jus ao sacrifício. Não sou de fazer
sacrifício nem por mim mesmo, esclareço. Contudo, alguns abusam e desgastam
essa fiação por besteira. Nesse tipo de relação, os erros não precisam ser relevantes
para serem cabais. Dependendo da ocasião, minhas reações são hiperbólicas e
inesperadas, por isso, não me exija absolutamente nada! Não espere a primeira
fatia do meu bolo, mesmo que você tenha se virado para me preparar uma
festa-surpresa. Também não espere que eu faça um elaborado discurso de
agradecimento no final da festa, porque, acima de tudo, vai soar falso, já que a franqueza é paradoxalmente a minha melhor e pior característica. Não retribuo na hora,
porque quero fazê-lo à altura. Não tem paciência de esperar? Só lamento! Um clássico
do Kid Abelha há anos dá uma valiosa dica sobre mim:
“Não faça assim. Não faça nada por mim. Não vá pensando que
eu sou seu.”
Não enfraqueça a amizade, a minha é volátil quando me sinto
desconfortável. Antes de me questionar sobre meu paradeiro nos últimos dias, saiba
que, enquanto muitos creem que o tempero do amor é o ciúme, prefiro acreditar
que é a saudade.
Namoro. Enquanto tantos lidam como se esse fosse um nó de
marinheiro, o que me tira do sério, penso que seja tão frágil quanto um laço de
cadarço feito por uma criança na sua primeira tentativa. Sabendo que expor
minhas visões sobre esse ponto renderia várias postagens, vou apresentar
apenas algumas conclusões pessoais: (1) é de vital importância para a sua
integridade mental saber qual o seu real papel na vida da outra pessoa, ou
seja, reserva é reserva e titular é titular; (2) namorado (a) ainda não é
estado civil nem é título de propriedade; (3) sinto informar que fidelidade e
exclusividade não são a mesma coisa; (4) ‘dizer’ é fácil porque acontece da
boca para fora, ‘sentir’ é mais difícil e leva mais tempo porque acontece da
boca para dentro; e (5) ao engatar em qualquer relacionamento, ninguém deve sequer desejar
mudar a essência de outrém.
Deparei-me durante toda esta última semana com uma sequência numérica que me
motivou a manuscrever essas palavras que já me visitavam havia semanas. O tal
número veio numa mensagem do meu computador e que tem a ver com tudo o que disse até agora: A conexão
falhou com erro 651. Isso me faz concluir que nenhuma conexão é livre de
falhas. Algumas são perdidas, mas, com sorte, podem ser recuperadas; as demais
falham e são canceladas, para sempre.