5.10.07

Amigos do Silêncio

Amigos não só devem falar o que deve ser dito, como também devem saber escutar. Muitas vezes ficar calado só escutando é mais difícil do que dizer o que está na ponta da língua. Estando certos ou errados, a verdade é que devemos saber a hora de falar e de calar. Na verdade, todos sabemos que, em algumas situações,

"O silêncio é a melhor opção!"

O silêncio pode ser a melhor companhia, também. Tantas vezes precisamos ficar a sós, para encontrarmos o silêncio. Tantas outras ficamos em silêncio para encontrarmos a nós mesmos. Às vezes, nós somos a nossa melhor companhia. No entanto, algumas pessoas não conseguem ficar completamente a sós, precisando de uma companhia apenas. Não uma outra pessoa, não uma companhia qualquer, mas um amigo. Um amigo que não diga nada, que talvez nem as ouça, mas que faça companhia. Um amigo do silêncio.
Cada um escolhe o amigo do silêncio que quiser. Pode ser um cão, um gato, um pássaro -- que obviamente não ficam em silêncio o tempo todo, mas que entendem de alguma forma que há momentos que devem calar e só acompanhar --, ou até mesmo um amigo de pelúcia. Há vários tipos de amigos do silêncio animados ou inanimados, reais ou fictícios, não importando a origem, mas a sua importância na nossa vida.
O meu amigo do silêncio veio em forma de presente, mas ainda assim pude escolhê-lo. Pude decidir entre um peixe azul muito bonito e outro diferente, pois tinha um tom marrom alaranjado, com uma linha preta no contorno externo da cauda. E foi exatamente por causa desse detalhe na cauda que ganhei Betto, meu peixe beta.


Sempre me perguntei como deveria ser a vida de um peixe. O que ele sente, se sente algo? O que ele ouve, se ouve algo? Betto me respondeu algumas perguntas. Peixes sentem algo além de fome, sentem a presença de alguém, são curiosos, gostam de chamar atenção e sentem preguiça. Sim, preguiça. Logo que chegou no meu quarto, Betto dormia em cima da folhinha mais alta da planta que decorava sua casa e lá ficava repousando, sem se mover. Depois de um tempo, a confiança foi aumentando e ele já até comia na minha mão. Na verdade, na ponta do meu dedo, mas, enfim... Até carinho ele deixava que eu fizesse no seu dorso (Minha amiga Tereza Jardim não acreditou nisso). Mais tarde, achei que ele havia se tornado mais uma vítima da moda, pois ele deixou de comer. O primeiro peixe anoréxico da face da Terra. Ou será que ele estava me avisando para começar uma dieta? De fato, pensei que ele havia ficado com preguiça de comer, mas, na verdade, ele adoecera. O detalhe na cauda, a linha preta, o mesmo que me fez preferi-lo ao mais bonito, já era um sinal de doença. Assim, ele ficou me fazendo companhia por, mais ou menos, um mês, sem comer, nadando como um louco para me alegrar, me fazendo companhia, em silêncio.
Hoje faz sete dias que perdi meu companheiro de quarto. Hoje, há mais silêncio do que antes. Ele era meu amigo do silêncio e sinto muito, mas muito mesmo, a falta dele. Oro pelo dia que voltarei a encontrá-lo no lago que há no céu (como meu amigo Ney disse que há), ou nadando alegremente, ou dormindo em cima de uma folha.
Fica com Deus, Betto!