2.1.08

Educação Alimentar, Já!

Qual a palavra mais amada por um gordo? Comer, lógico. Isso faz com que a mais odiada seja, sem sombra de dúvida, dieta. Dá dor de cabeça só de pensar. Numa época em que corpos "perfeitos" são os que quase desaparecem de perfil, as moças rechonchudas, as quais foram imortalizadas por diversos pintores em inúmeras obras de arte de épocas distintas como musas, economizam partes dos seus salários para, um dia, doarem a um pobre médico cirurgião plástico, na esperança de conseguirem atingir o ideal de beleza que vem à tona sempre que ligam a TV ou folheiam as revistas da sala de espera das suas depiladoras. Tsc-tsc... Tadinhas!
É moda, isso! Assim como é moda, também, falar em reeducação alimentar. Mas não é estranho falar em reeducação quando não houve uma educação, primeiramente? Quem são nossos professores? Nossos pais? Há tanta gente tão psicótico com isso que já montou uma biblioteca inteira sobre o assunto, tanto que, se houvesse uma educação formal para tal, eles passariam direto para o pós-doutorado, e com louvor. É o tipo de gente que não fala que não tem comido arroz ou farinha, mas que está a dar um tempo dos carboidratos. Já não se referem aos alimentos pelos nomes, mas pelas classes às quais pertecem. Que chato!
O que tenho visto é que, por causa dessa onda de esqueletização das silhuetas, os pais que deveriam (re)educar os hábitos alimentares de seus filhos, têm se tornado os grandes carrascos desse processo. Dia desses, na casa de um amigo, a matriarca estava a me dizer que não sabia mais o que fazer com a filha mais nova que está cada vez mais beirando a fronteira entre a gordura localizada e a obesidade, no exato momento em que tirava da sacola de compras uma lata de farinha láctea, outra de achocolatado e um pacote de salgadinhos industrializados. Como pode um pai, no caso, uma mãe, chegar para um filho, no caso, uma filha, que está com os hormônios alterados por causa dos outros hormônios utilizados nos alimentos que ingerimos todos os dias e ter a audácia de dizer que ela comprou todas aquelas apetitosas "besteiras", mas que ela não pode nem chegar perto? Se não for para comer, não compre! Não faça esse tipo de terrorismo, achando que está a trabalhar a perseverança e a força de vontade do alheio. Ninguém merece! Já não basta habitarmos o país mais vaidoso do mundo? Esse é outro fato que conta contra os gordos.


Por falar em gordura localizada, existe gordura não-localizada? Ou será que ela é chamada como tal porque esteve perdida por um tempo? Se for o caso, não seria melhor não tê-la(s) localizado, então? Mas é a velha discussão sobre a natureza humana que nunca pode estar satisfeita com o que tem e sempre procura por algo que precise ser melhorado, mesmo quando não carece. Ainda sobre o tópico gorduroso, outra palavra da moda é 'gordura trans' ou a gordura ruim. Se não me engano, estudei algo no segundo grau - Sim, sou da época do segundo grau (ponto) - que levava esse nome em química. Era algo que punha 'trans' em contraste com 'cis', enfim... Se for assim, seria a 'gordura cis' a gordura boa, ou seja, a solução para os nossos problemas? Preferiria que nas embalagens dos produtos que compramos houvesse a porcentagem de gordura cis, também.
Não é de hoje que tenho refletido sobre alimentação. Ano passado compartilhei com alguns amigos e alunos a seguinte teoria, nascida durante um surto filosófico meu: Uma vez que comer muito pode causar vários efeitos colaterais inconvenientes, deveríamos apenas fazer reclamações do tipo "Comi muito! Vou ter uma baita enchaqueca", mas nunca, nunquinha mesmo

"Droga, comi muito! Vou engordar"

porque isso irrita mais do que acordar no dia de uma reunião matutina super importante, se olhar no espelho e descobrir que você ganhou um tersol imenso, o qual cobre seu olho tal qual a máscara do pirata. Na verdade, tudo irrita um gordo: as chacotas na escola e na rua, o pai que compra tudo que ele gosta mas o proíbe de sequer cheirar, a inexistência de uma escola que realmente eduque quanto à alimentação, as revistas e seus corpos modificados, ... Aaarrrggghhh! Pronto, está feito. Quebrei meu espelho!