18.5.09

Despedidas

Au revoir. Um mal necessário. Afinal de contas, como giraria o mundo sem que víssemos os dias partirem? Como amadureceríamos se não nos despedíssemos das fraldas e das chupetas? Como poderíamos ser realistas se nos prendêssemos às fantasias e ilusões? A vida é feita de fases. Algumas têm limites muito bem definidos, outras nem tanto, mas todas elas envolvem desapego de algo, por menor que seja. Interessante é perceber que algo que pode nos dar tanto trabalho para nos livrarmos lá atrás, hoje pode nos parecer tão irrelevante. Isso me faz perceber que a relevância do momento pode tornar a despedida mais difícil.
Farewell. A despedida, de fato, está diretamente relacionada ao momento de cada um. Seja do que parte, do que fica, ou de ambos. E não adianta dizer que foi pego de surpresa, porque esse momento envia sinais claros de que está a caminho: as ações. Mesmo lidando com elas com negligência, através de ações conseguimos sair da vida das pessoas ou tirar pessoas da nossa vida, sem precisar falar absolutamente nada. Por outro lado, algo que você diga a um amigo num momento seu pode representar as suas últimas palavras com ele. Ou seja, o uso ou não das palavras pode tornar a despedida mais ou menos dolorosa. É bom saber que


"Não dizemos 'adeus' com palavras."


Adiós. Se não fosse realmente necessário, despedir-se seria muito fácil. Mas ninguém disse que seria fácil. Despedidas não são fáceis nem quando significam o início de uma nova fase de progresso na vida de uma pessoa. Nesses casos, o elemento mais intrigante nos abraços e beijos demorados é a esperança de que tudo vai dar certo no destino incerto para onde a viagem está a levar. Mas a mesma esperança faz com que percamos oportunidades de despedirmos uns dos outros. Nessas situações, prevalece a esperança da permanência, sendo que, em muitos casos permanecer é impossível. Sendo assim, a esperança consegue tornar a despedida uma tempestade de emoções.
Auf Wiedersehen. Não é necessariamente o fim. Se olharmos por outro ângulo, nos despedimos de uma situação para iniciaCor do textor uma nova, seja um projeto, um emprego, um relacionamento, uma conversa, até mesmo de um amigo. Despedir-se de alguém pode representar o fim de um relacionamento constante para iniciar um virtual, por exemplo, ou mesmo a oportunidade que algumas vezes nos damos para conhecer novas mentes e novos mundos. Portanto, olhar por um outro prisma pode responder às perguntas que surgem com as despedidas.
Arrivederci. É o ponto de partida da contagem regressiva para o reencontro. Saber que aquele abraço de despedida em breve pode ser um abraço pra matar as saudades acumuladas enquanto estamos longe é reconfortante. A espera pelo reencontro pode ser agoniante, chega a doer, faz mal, mas a certeza do reencontro é revigorante e rejuvenescedor. Só conhece o sabor de um "Quanto tempo!" quem se permitiu um dia sofrer por um "Vai com Deus!". Em resumo, o reencontro é o grande regalo da despedida.
Sayonara. Não é momento de arrependimento, mas de visão. É hora de olhar pra frente e se preparar para o que está por vir. Olhar para trás só se for para lembrar de suas origens ou para lembrar de erros passados de modo a evitar repeti-los. Saudade alimenta a alma e assim seguimos em frente. Podemos não saber para onde devemos ir, mas sempre sabemos a hora de partir. Enfim, despedidas podem nos resgatar de frustrações que podem nos prender para sempre no lugar de onde deveríamos ter saído quando recebemos o sinal. E agora é a hora de me despedir, também...

24.3.09

Fatias de Pizza

Quantas pessoas você já conheceu até hoje? (Não vale dizer o número de pessoas adicionadas ao seu perfil do orkut, tá?) Acha esse número alto ou baixo? Quantas mais ainda vai querer conhecer na vida? Fazer a social é mesmo necessário? É e pode custar muito caro.
Acredito que não há relacionamento mais complicado do que aquele que desenvolvemos com o nosso próprio "eu", mas esse é também o que traz menos prejuízo. Mas quem foi que disse que o ser humano gosta de jogar pra ganhar, mesmo? Se isso fosse verdade, as pessoas investiriam seu tempo no auto-conhecimento em vez de marcar encontros às escuras.
É incrível como, algumas vezes, conhecemos melhor os outros do que a nós mesmos! Indiscutível é a importância do relacionamento interpessoal para melhorar o relacionamento intrapessoal. Até porque, da mesma forma, um relacionamento intrapessoal pode melhorar um outro do mesmo tipo que esteja em crise, não é verdade? A aprendizagem acontece quando e, às vezes, com quem a gente menos espera.
Você não concorda que a história de que um pedaço nosso fica naqueles que conhecemos é muito boa? Boa demais pra ser verdade, alguém pode pensar. Mas, nessa vida de pizzas sociais que somos, uma pergunta me veio à cabeça: Quando o assunto é relacionamento,

"Qual o tamanho da sua pizza e
quantas fatias ela tem?"

E não importa o sabor, sempre tem alguém a desejar um pedaço da sua pizza. Assim como, provamos fatias de toda sorte de pizza por aí. Algumas boas, outras muuuito boas mesmo, e outras cujos ingredientes não deram uma combinação legal, que nem merecem ser lembradas. Já há aquelas que só podem ser lembradas, porque já não estão mais nas prateleiras nem serão relançadas em edições especiais, infelizmente.
Enfim, tudo isso foi dito para que você entenda o que estou sentindo hoje. Depois de 31 anos a expor minha pizza para degustação pública, eu já não sei mais o sabor da minha própria massa, pode? É como se eu tivesse servido o prato e não tivesse sobrado uma migalha para recordar ou como se alguns ingredientes essenciais já não existissem mais. Agora, me sinto perdido, sem a receita, sem ingredientes, mas, principalmente, sem inspiração para inventar uma nova pizza, cujo paladar não sei se vai me agradar.
O forno está aceso, o restaurante está lotado, os pedidos estão a acumular, o pãozinho de alho já não há mais, e o chef não está seguro de que o novo prato fará sucesso. Ele está com vontade de chegar no meio do salão e anunciar que a cozinha está fechada... sem previsão de reabertura.
O pior é que eu nem gosto tanto de pizza assim.