6.6.07

Perdas Significativas

Ontem tive uma perda muito significativa, não comparável a que tive há quase dois anos. Mas essa perda foi importante pois me mostrou, de certa forma, que estava certo quando tomei a decisão de desistir do curso médico. Estava a tomar conta de uma plantinha que parecia um cactus, mas ela se foi. Se foi porque eu não soube cuidar dela. Não percebi ou não soube interpretar os sinais que ela me enviara. Foi, então, que me questionei como seria se ela fosse um ser humano. Sabendo que, se seguisse a carreira médica, seria geriatra, me pergunto: E se fosse um velhinho? Há quem diga que as pessoas mudam quando começam a tratar das mazelas alheias, que ficam mais frias, que deixam de ser emocionais e permitem que a razão se sobressaia em momentos assim. E foi exatamente isso que me fez largar aquele curso.
Diferentemente de minha avó, não vou ter a imagem da plantinha por muito tempo na minha memória, pois não esperava que ela se fosse tão rapidamente. Por que cargas d'água Christina Aguilera começa a cantar
"Hurt" exatamente agora no rádio? Talvez porque seja hora de falar da minha avó, ou melhor, vovó Didi, como a conhecíamos.
Vovó Didi era forte, muito forte... e teimosa. Teimosia essa que deve ter passado geneticamente para todos nós. Teve muitos filhos, criou a maioria, perdeu um ainda jovem, ganhou uma penca bem grande de netos, os quais levou na memória até o fim. Nos levou com ela, mas não como somos agora, mas como éramos quando crianças, porque o Alzheimer já não a permitia nos reconhecer, o que era, ao mesmo tempo, triste e engraçado. Triste porque queríamos chegar mais perto dela para um carinho que fosse e éramos severamente mandados "pra baixa da égua", pois não passávamos de estranhos na cabecinha dela. Mas acabava sendo engraçado quando ela dizia toda a lista de chamada dos netos para poder acertar o nosso nome, finalmente.
Uma curiosidade sobre os últimos anos dela é que, não importava onde estivesse, ela pedia para ir para a casa dela, que ficava atravessando o rio [Xingu], e que sempre havia um barqueiro à espera dela no cais para levá-la embora. E nessa casa, suas criancinhas a esperavam, era o que sempre repetia. Por isso, no dia 11 de dezembro de 2005, depois de ser acordado com a notícia de sua partida, mandei a seguinte mensagem para minha mãe, que estava lá, no leito de morte de sua mãe:
"Agora sei que o canoeiro que a levaria para casa era Deus e as criancinhas que a receberiam, anjos do céu. Ela chegou à casa que tanto falava."
Hoje, tenho bem nítida a imagem dela em mim, pois, como sabia que ela nos deixaria
mais cedo ou mais tarde, procurava ficar parado a olhar para ela, a registrar o máximo de seu semblante na minha mente, o que às vezes a incomodava, obviamente. Mas não terei o mesmo da minha plantinha, que era tão bonita, mas que morreu chorando...
Meses depois do seu falecimento, minha mãe me disse que, pouco antes de morrer, já sem poder levantar-se,
vovó chamou mamãe para deitar-se junto a ela, segurou sua mão e assim partiu.
E eu não tive a chance de despedir-me delas... Então, simbolicamente, faço isso agora:

"A benção, vozinha... Desculpe, plantinha... Vão com Deus!"

Um comentário:

Unknown disse...

Ai mano, não tenho o q comentar pq tô chorando agora....!!!!