6.3.12

Adrenalina

O poder que uma substância na corrente sanguínea é capaz de causar é incrível, isso mesmo, difícil de acreditar, a ponto de nos desconhecermos diante de uma situação fora da nossa zona de conforto. Mais especificamente, um perigo súbito, segundo interpretação do nosso próprio corpo. Este famoso hormônio, que já virou sinônimo de aventura e do ser radical, cataliza a absurda transformação de um pacato cientista num herói gigantesco e verde, conhecido através de filme e gibis. Esse personagem, que nasceu nas histórias em quadrinhos lá dos anos 60, exemplifica bem o quão imprevisível é o mega efeito dessa química corpórea.
E quem diria que toda essa mudança começa bem longe do cérebro? Para ser mais pontual, em glândulas que descansam sobre os rins, em algum lugar na parte posterior do nosso abdome, chamadas glândulas suprarrenais ou adrenais, daí a origem do nome 'adrenalina'. Refletindo sobre sua humilde origem e sua ação devastadora, me veio a seguinte questão: Seria a adrenalina um veneno? Sim, porque se o produto de um mero anexo é capaz de tanto,  imagine qual seria o estrago caso ela fosse produzida em um órgão de fato, como o coração.
A pobre bomba cardíaca, a propósito, é um dos órgãos que mais sofrem com as descargas adrenérgicas. Por isso, ele parece que será catapultado para fora do nosso peito sempre que algo intenso acontece na nossa vida. Mas não só ele é afetado, o corpo todo é posto em alerta. Pode ser um alarme falso? Muitas vezes, sim. Quer seja o cérebro pregando uma peça, quer seja só uma checagem se estamos preparados para atacar ou fugir, reações paradoxais, no entanto, peculiares desse fenômeno humoral. Hulk teria a primeira, enquanto o Dr. Benner, a segunda, se bem lembram.
O ponto onde quero chegar é que não nos conhecemos tão bem quanto imaginamos até sermos expostos à deformadora ação da adrenalina, onde temos que decidir entre atacar ou fugir, quando há outras vidas em risco. Não sabemos se somos destemidos ou cautelosos, corajosos ou covardes. Não sabemos se teremos discernimento para aplicar tamanha força desconhecida na direção certa. Força essa que nos habilita a saltar, ouvir, raciocinar, ou destruir como nunca imaginávamos ser possível.
E nesse cenário caótico, será que ainda há espaço para o bom senso? Creio que sim, e você? Numa situação onde quem manda é o líquido adrenal,

"Quem é você: Dr. Jekyll ou Mr. Hyde?"

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